Dá pra humanizar e acolher 10 mil mortes?

Diversa

Dá pra humanizar e acolher 10 mil mortes?

15 de Maio de 2020

O Brasil já perdeu mais de 10 mil pessoas na pandemia de coronavírus e estas vidas são mais do que estatísticas

O Brasil passou de 10 mil mortes por coronavírus em pouco mais de dois meses e a triste marca trouxe um despertar do jornalismo para mostrar que tem mais do que estatísticas acontecendo. São pessoas, famílias que terminaram e há muita dor vivida. (Ao contrário do que disse o ex-ministro Osmar Terra na Globo News, espalhando desinformação: “Só tem 10 mil mortos com essa quarentena.”).
G1 fez um memorial com as histórias que de quem morreu (começando com a compilação das já noticiadas). O Café da Manhã disse que Precisamos falar sobre morte e luto e o relato que abriu o podcast da Folha foi de uma família evangélica, a de Paulo Ferreira da Silva. O Assunto, do G1, trouxe um relato de perda de Thiago Ladislau, morador de Pernambuco, que narra a falta de estrutura do sistema de saúde.
Ainda na Folha, se vê mais gente na página de histórias de vida e de quem mantém a sociedade girando em meio à quarentena. Mas também um texto de desumanização: Quanto vale uma vida? Saída do confinamento reabre o debate entre os economistas.

O Globo fez uma capa com os nomes e uma linha de história dos mortos por coronavírus, contadas no Inumeráveis, um memorial às vítimas da doença. Alana Rizzo, jornalista que coordena o projeto, falou à Diversa que o jornalismo precisa tratar dos preconceitos e discursos de ódio ligados à doença para acelerar o processo de cura social. O relato foi editado pra ficar mais curto e objetivo.

O JORNALISMO PODE AJUDAR NA CURA?

Diversa: O que é inumeráveis?
Alana: É um memorial às vítimas do coronavírus, nossa intenção é transformar números em histórias. E nasce do incômodo de que temos mais números do que histórias. A gente entende que gente merece existir em prosa.

D: Em que pé está?
A: Hoje funciona como um memorial digital, em que uma rede de voluntários formada por estudantes de jornalismo e jornalistas está à disposição para contar as histórias. O familiar pode submeter uma mensagem no site ou conversar com alguém para contar a história. A ideia é que vire um memorial físico.

D: Como a visibilização ajuda no luto?
A: É um dos pontos que mais me emociona. O luto mudou durante a pandemia. Os rituais de passagens são com a gente isolado e sem o conforto dos nossos entes queridos para conversar sobre quem perdemos, se abraçar. O memorial está funcionando como parte desse processo de poder curar um pouco as feridas e as mágoas por meio da escrita ou falando para outra pessoa sobre quem morreu. Também ocupa um lugar de perceber que não se está sozinho. Quem morreu, foi com outras pessoas, vítima de uma pandemia que é algo maior, grandioso. Quando você vê outras histórias, vê que quem morreu não está sozinho e você também não está sozinho nesta dor. Há pesquisas que mostram, por exemplo, pós 11 de setembro, que um luto coletivo de alguma forma também ajuda a curar.

D: O coronavírus está causando estigmatização?
A: É uma doença nova, cheia de incertezas e que está criando uma onda de discursos de ódio. A gente tem visto casos de ataques online e no mundo físico, direcionados às pessoas contaminadas e aos familiares delas. O jornalismo precisa ter atenção aos preconceitos, aos discursos de ódio porque a gente já tem casos na história de doenças que ficaram estigmatizadas e tem efeitos perversos e duradouros como a tuberculose e a Aids.

NO RADAR

 

Desigualdade

► Rodízio e vias fechadas aumentam o número de passageiros nos transportes públicos, mostra o Agora São Paulo.

► Levantamento da Agência Pública mostra que o índice de mortes por coronavírus no Brasil é muito maior entre pessoas negras.

► Entre fevereiro e março deste ano houve quase 5 mil mortes em casa a mais que no ano passado. O Nexo cita que a maioria delas deve ser entre quem tem pior acesso à saúde.

Periferias

► G1 acompanha as ações que lideranças comunitárias vem construindo em Paraisópolis, uma das maiores favelas de São Paulo, enquanto faltam políticas públicas específicas. 240 moradores foram treinados como socorristas porque “o Samu dificilmente chega”, disse Gilson Rodrigues, presidente da União de Moradores.

Profissionais da saúde

► Brasil já perdeu mais profissionais de enfermagem para o coronavírus do que Itália e Espanha juntas, mostra o El País. Sem equipamentos básicos, eles estão indo pro front.

► Pablito Aguiar conta, em quadrinhos, histórias de profissionais na linha de frente da pandemia.

Mães

► Dia das mães teve relatos do mundo elitista e com traços de machismo. No Estadão, mães que além dos filhos cuidam dos doentes de coronavírus. A Folha trouxe um relato de mãe (jornalista) de primeira viagem com medo da pandemia, que aponta seu lugar de privilégio e cita situações de mães em condições de privação e econômica e falta de apoio social e familiar.

► Folha teve também mães que apoiam a transição de filhos transexuais e enfermeiros da linha de frente falando sobre o dia a dia pesado e como será o dia sem contato com as mães.

Jornalismo

► De onde escrevo (Where I´m writing from) é uma página do Facebook em que os jornalistas postam fotos de suas mesas de trabalho. nos retratos, lugares bonitos e bem estruturados o lugar de fala da imprensa (majoritariamente dos EUA, mas não só). procura-se jornalistas diversos para ocupar a página.

Acompanhe as últimas reportagens publicadas pela parceria da Énois com Gênero e Número, AzMina e data_labe:

► A pauta é educação em tempos de quarentena. Nós ouvimos mães, estudantes e professores que contam como tem sido a rotina após a adoção de educação à distância. Énois e data_labe.

► Sem aulas nas escolas de educação infantil e creches, a rotina com as crianças dentro de casa pode estar difícil. Muitas vezes com casas cheias e pouco tempo para se dedicar às crianças, as cuidadoras e cuidadores ficam sem muitas opções. Pensando nisso, listamos algumas brincadeiras alternativas que podem ser uma boa saída na falta de criatividade para se divertir. Da Énois.

► Eficientes contra o coronavírus, países governados por mulheres se destacam em políticas de igualdade de gênero. Na Gênero e Número.

► Cresce o número de campanhas dedicadas a criar fundos emergenciais e redes de apoio para as mulheres. Iniciativas oferecem suporte emocional e financeiro a mulheres afetadas pelo isolamento social. Na Gênero e Número.

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