O jornalismo deve buscar solução

Diversa

O jornalismo deve buscar solução

14 de Maio de 2020

Para além dos relatos e esmiuçamento das tragédias causadas pela Covid-19, é papel da imprensa questionar e manter a agenda de fiscalização

A cobertura da imprensa tem sido incisiva e em cima do laço para mostrar a falta de condições que o Brasil tem e os momentos ruins que ainda iremos enfrentar por conta do coronavírus. Como vemos nessa reportagem da Folha: Leitos de UTI do SUS devem chegar à capacidade máxima neste mês na maioria dos estados, que traz um serviço de consulta à tendência dos casos e ocupação dos leitos por estado e nas capitais.Mas os muitos relatos da tragédia deixam o leitor com a sensação de impotência e de fato consumado para uma realidade sem solução. Apesar do tom crítico, o efeito produzido pode ser até o de aproximar a sociedade do discurso fatalista do presidente.Apesar de o desejo ser de provocar o governo e população a ter ações estratégicas e que considerem a realidade brasileira, não vamos alcançar esse objetivo apenas com relatos exaustivos e o esmiuçamento da tragédia.Os jornalistas estão sendo essenciais, passando por cima de vidas pessoais, correndo o risco de adoecerem de Covid ou da cabeça numa cobertura trágica e que revela nossa impotência diante da desestrutura social do país. Mas precisam fazer mais.Algo precisa e pode ser feito além de mostrar os problemas estruturais que só ficam mais visíveis, incontornáveis e inacreditáveis à medida que o coronavírus se espalha. Sabemos que a Covid-19 é mais letal nas periferias e que as chances de morte entre pretos é 62% maior que a dos brancos. Infectologistas e líderes comunitários concordam: “Isolamento dentro de casa como panaceia é um sonho de classe média. É preciso uma resposta global, social.”E aí, fato consumado? O que pode ser feito quanto a isso? Pra além de mostrar as ações nas periferias, da sociedade civil que se vira, é papel do jornalismo questionar e manter a agenda de fiscalização, levando as pautas para a opinião pública e também para o poder público.A cobrança e a fiscalização feitas pelo jornalismo têm de ir pra além do relato, mostrar o que não foi feito, o que precisa ser e como e por que as medidas tomadas são boas ou ruins. Mais olhar para soluções, caminhos e ação para construí-los, como faz o Desenrola e Não me Enrola nessa reportagem sobre as propostas de um grupo de pesquisadores da Unesp para reduzir os efeito do Covd-19 nas periferias. Algumas delas vão na contramão das medidas tomadas e que devem ser questionadas, como manter a quantidade de trens e metrôs para evitar aglomeração no transporte de trabalhadores de serviços essenciais. Outras vai dando-se jeito como a ampliação de wi-fi nas periferias, que tem campanha em Ermelino Matarazzo para que os vizinhos compartilhem a internet.Em tempos de pandemia que une extremos opostos, o jornalismo precisa entender o papel e impacto mais ativo e efetivo. Além dos relatos, precisamos perguntar e (tentar) responder:1. Por que não conseguimos comprar testes?
2. Qual o tamanho da desigualdade de subnotificação do coronavírus nas periferias e favelas?
3. Que métodos podem ser criados/utilizados para mapear os casos?Aqui você encontra um material produzido pela jornalista Priscila Pacheco, especialista no assunto, sobre como colocar em prática o jornalismo de solução.

NO RADAR

 

Política

► Em três meses, desinformação sobre Covid-19 foi de cura milagrosa à politização do isolamento, viu o Aos Fatos a partir da análise das fake news checadas desde o início da quarentena.

Dados

► Médicos da Rocinha têm levantamento de casos de coronavírus acima do informado pela prefeitura: são 13 a mais que as 9 oficiais, mostra a Folha. Os dados da comunidade são compilados com base em planilhas da vigilância sanitária, pesquisas no sistema de exames e moradores.

► A Piauí mostra com dados como o coronavírus se espalha pelo país e ruma ao interior. Na maior parte do país, a doença ainda está em fase inicial.

Amazônia

► O Amazonas e como um sistema de saúde colapsa foi tema do Café da Manhã, podcast da Folha com relato do repórter Fabiano Maisonnave e da médica sanitarista Adele Benzaken, que atua na Fundação de Medicina Tropical de Manaus.

Pessoas com deficiência

► A OMS aponta que as pessoas com deficiência estão mais expostas ao coronavírus por precisarem de cuidado e apoio para locomoção e o G1 trouxe 4 relatos sobre a rotina de pessoas com deficiência e o depoimento de um médico paraplérgico que trabalha na linha de frente da Covid-19 no Ceará.

Raça

► A ponte contextualiza por que o coronavírus prejudica mais a população negra.

► O Jornal Diáspora Negra listou 22 cursos de História e Cultura africana e afro-brasileira para estudar em casa.

► MarieClaire traz uma reportagem com as diretoras de sucesso da Globo, todas brancas como pontua Etienne du Jardin, da Somos B. Já refletiram sobre a hegemonia do termo MULHER representar as mulheres brancas? Questiona a diretora Juliana Vicente.

Criança

► A revista infantil de domingo do New York Times lembrou às crianças que não estão sozinhas no isolamento e as trouxe para a edição, uma mudança que vai ficar no pós quarentena, disse a editora ao NiemanLab: “Teremos menos explicações e análises e mais reflexões e escuta do maior número de experiências possível e deixaremos a conversa ser guiada pelas crianças e leitores.”

Gestão de equipe

► A equipe do POLITICO fez uma newsletter infantil voltada para os filhos de quem trabalha lá, a polit-kids. Tem mini-versão de reportagem, leituras guiadas, páginas para colorir, receitas, piadas e uma sessão de entrevistas com as crianças. É para o público interno e em inglês, mas dá para assinar.

Sustentabilidade finaceira

► Folha divulga que teve segundo mês de recorde de audiência. E Estadão, Editora Globo, Valor, Conde Nast, Rede TV e Abril estão reduzindo salários e demitindo, diz o Sindicato dos Jornalistas de SP.

Acompanhe as últimas reportagens publicadas pela parceria da Énois com Gênero e Número, AzMina e data_labe:

Presidente da Associação de Mulheres de Paraisópolis, Elizandra Cerqueira lidera ação de alimentação na favela na epidemia do coronavírus, na Revista AzMina.

Governo anuncia mais de 4 milhões de “empregos preservados”, mas cálculo dos valores a serem recebidos é complicado e não há política direcionada para mulheres que têm carteira assinada, da Gênero e Número.

A Gênero e Número mapeou 17 iniciativas de ajuda a mulheres que sofrem violência doméstica durante o isolamento social causado pela pandemia de covid-19, da Gênero e Número.

CURTIU O CONTEÚDO?

APOIE a gente. O mundo vai ter que se transformar. E pra fazer boas (novas) escolhas é preciso informação. Em meio a esta pandemia, você fica em casa e a gente segue apoiando o trabalho de jornalistas que apuram o impacto do coronavírus nas quebradas e a distribuição de informação checada e relevante. Fortaleça nosso trabalho pra que ele se espalhe pra cada vez mais territórios. E fique em casa.

FacebookInstagramInstagram