Coronavírus e a representatividade na cobertura jornalística

Diversa

Coronavírus e a representatividade na cobertura jornalística

14 de Abril de 2020

A necessidade de cobrir as periferias durante a pandemia do coronavírus

O coronavírus está fazendo a gente questionar nosso rumo como sociedade, como indivíduo e também como imprensa. Não tem momento mais propício e inescapável para repensar e se reconectar com o jornalismo como papel social e serviço para o público do que esse.
Desde que o vírus chegou ao Brasil, há um mês, vai caindo nossa ficha sobre a necessidade de se proteger para evitar sua propagação e, por consequência, a quebra do sistema de saúde. É um caso extremo em que se cuidar é cuidar de todos e, mais ainda, dos mais frágeis. E como o jornalismo está fazendo isso? Será que está?
A doença chegou trazida por quem viaja pra fora do país e muito da cobertura esteve voltada para esse público de elite e o de sempre: números macro do país e do mundo, quarentena na volta do exterior, cobertura de planos de saúde. À medida que os casos foram aumentando e a realidade dos outros países começou a ser espelho para a nossa, home office virou palavra de uso corrente.

HOME OFFICE PRA QUEM?

Como questiona a reportagem do Periferia em Movimento: para quem? “O cenário muda quando falamos de perfis específicos: vendedores ambulantes, empregadas domésticas, autônomos, terceirizados, entre outros grupos, formados majoritariamente por trabalhadores de regiões periféricas, que possuem um histórico de escassez de direitos trabalhistas no país.” É o perfil da primeira vítima do coronavírus no Rio, como muitos veículos bem retrataram, entre eles o podcast do Nexo.

Em grande parte, a cobertura jornalística esquece de perguntar: estamos falando e servindo todo mundo?

Observatório das Favelas fez um áudio servição explicativo sobre como se manter limpo economizando e com os recursos disponíveis, leve e com imagem pra compartilhar no WhatsApp. Muitas iniciativas periféricas estão distribuindo e informando neste sentido.

Diversa, durante o período da crise, vai olhar para a cobertura que está reconectando o jornalismo com o papel de serviço, com o público e olhando para a maioria do país. Vamos trazer, semanalmente, um compilado que olha para a diversidade, entendendo os impactos que a epidemia causa e vai causar nas periferias e a dificuldade de proteção e tratamento de quem depende do sistema de saúde público e já enfrenta dificuldades estruturais no dia a dia.
Com a instalação do corona no país, certamente a forma como ele vai afetar a população mais pobre é – assim como tudo que tem relação com falta de estrutura – mais brutal. E a cobertura também precisa acompanhar. É uma grande oportunidade para o jornalismo se conectar com a sociedade.
Jornalismo Gratuito  Uma iniciativa importante foi a liberação da cobrança pelas reportagens (o paywall) de serviço do coronavírus, feita por mais de uma dezena de veículos: Folha, Estadão e Nexo (SP), O Globo (RJ), Correio (BA), O Povo (CE), GaúchaZH (RS), O Correio do Povo (RS), Jornal do Comércio (RS), Gazeta do Povo (PR), NSC Total (SC), A Gazeta (ES) e O Popular (GO). 
#COVIDN19NasFavelas e #CoronaNasPeriferias  A cobertura dos jornalistas locais das favelas e periferias jogou luz sobre a falta de água nesses locais, o que torna impossível a prevenção mais simples de todas: lavar as mãos. A Folha relatou que o isolamento é impraticável quando há um só cômodo e a dificuldade de acesso à água nas favelas do Rio. E publicou também um dado alarmante: 32% dos moradores de favelas e periferias terão dificuldade para comprar comida. 
Medidas sociais afetam periferias de forma diferente  E com quem ficam os filhos das mulheres que continua/m trabalhando com as escolas fechadas? Como será a ação da polícia e caso de descumprimento de quarentena nas periferias? E o atendimento nas UBSs, haverá? Os questionamentos são feitos em artigo dos Jornalistas Livres, no Blog da Agência Mural na Folha e de Dennis de Oliveira, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP), no Alma Preta. Serviços e comércios  O Voz das Comunidades está mostrando a mudança nas atividades e regras de segurança que estão sendo adotadas nos comércios das favelas. Redes de apoio  Tem gente dando a dica de quem tem um produto de limpeza a mais ou água, compartilhar com quem não tem; e pelo menos o grupo Publicitários Negros e aUneafro fazendo mapeamento de necessidades nas comunidades para conectá-las com marcas que possam apoiar.E as pessoas em situação de rua? O El País foi ver o que não está sendo feito e como a epidemia vai afetar ainda mais essa população.Comunicadores periféricos unidos  Jornalistas das periferias de vários estados do país produziram um manifesto que orienta a cobertura e lembra do serviço para o público que devem prestar.

Além da newsletter, faremos a distribuição de reportagens da Énois em parceria com data_labeAzmina e Gênero e Número. Estamos nos unindo para também dar vazão a pautas que tenham recorte de gênero, raça e territórios. Até agora, duas reportagens foram produzidas pela aliança: como trabalhadoras informais estão se organizando para alimentar seus filhos e a história das enfermeiras que estão na linha de frente contra o Coronavírus.Acompanhe também pela  #ESPECIALCOVID 

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