20 de Julho de 2018
Os primeiros resultados da pesquisa que está mapeando a raça nas redações jornalísticas
Esses jornalistas apontaram que a maior parte das redações não tem políticas voltadas à representatividade. O mais comum é haver espaço para discussão em grupos dos funcionários, campanhas e palestras sobre preconceito e desigualdades de gênero, raça e orientação sexual. O que já indicia um começo de conversa.
Num patamar adiante, há veículos que buscam contratar profissionais das periferias e negros e que discutem as pautas coletivamente para que as abordagens sejam construídas em conjunto. Os jornalistas negros apontam, na pesquisa, que se preocupam em colocar raça e outras perspectivas da realidade social como recorte das pautas. Entre as contribuições que citam ao jornalismo está a racialização das pautas, a discussão de direitos humanos, desigualdade social e de gênero e a busca de fontes mais diversas.
Os negros ganham menos, são mais jovens e estão há menos tempo nas redações que os brancos que responderam a pesquisa. A faixa de idade mais baixa dos jornalistas negros pode ser um reflexo da rede da Énois, formada por jovens.
Os profissionais negros trabalham há menos tempo nas redações (35% há menos de 3 anos, enquanto os brancos são menos de 20%) e também há mais freelancers entre eles (perto de 30%, contra menos de 10% dos brancos). A maioria deles ganha até 3 salários mínimos (faixa de menos de 25% dos brancos) e só 15% recebem mais de 5 salários (entre os brancos, é perto de 40%).
► Uma pesquisa tentou mapear o perfil dos repórteres que iriam cobrir as eleições dos EUA em 2016 para ver se havia equipes diversas, capazes de retratar a complexidade e as diferentes questões da população. De 15 grandes redações contatadas, só 4 responderam diretamente, sendo que em off e conversas informais esse perfil era facilmente levantado. Abrir os dados sobre as equipes e as decisões de formação deles ajuda as redações que querem melhorar a diversidade e gera dados para pesquisadores e a audiência, diz Farai Chidea, autor da pesquisa publicada pelo Shorenstein Center. O jornalismo cobra transparência, mas não segue os mesmos padrões. Nas conversas com os editores, ficou claro que diversidade é uma questão para as próximas eleições de lá, em 2020. “Independentemente de raça, gênero, etnia de jornalistas, precisamos refletir a diversidade do eleitorado e do país como um todo, e explicar e entender o que essas pessoas estão dizendo e exigindo”, diz Lee Horwich, editor de política no USA Today.
► A fellowship Maynard 200 quer capacitar 200 jornalistas com perfil diverso nos próximos 5 anos: na reportagem, chefia ou empreendedores para fortalecer a representatividade nas redações no futuro. É que as demissões de jornalistas dos últimos anos foram piores para negros e diversos relatórios mostram que o ambiente das redações não é amistoso para profissionais negros buscarem promoções, nem mesmo nas novas organizações. O diagnóstico deles é que o discurso moral e financeiro não teve efeito na abertura das redações para a valorização dos jornalistas negros e suas experiências, então o apelo é para a credibilidade. “Um dos indicadores mais importantes [para credibilidade do conteúdo online] são vozes e perspectivas”, diz Odette Alcazaren-Keeley, diretora do Maynard 200.
► O jornal El País terá uma mulher na direção pela primeira vez desde a criação do veículo, em 1976. É Soledad Gallego-Díaz, de 67 anos, que já tinha sido convidada pro posto em 2012, mas na época queria saber era do gerenciamento da redação.
► A conferência Women in News Media trouxe um punhado de estatísticas sobre a desigualdade entre homens e mulheres nas redações. Com base no encontro, o NiemanLab fez uma lista de práticas para aumentar a representatividade de gênero: a BBC está monitorando o gênero nas reportagens para alcançar 50% de mulheres e homens, o GenderMeme levanta o gênero das fontes em escala, e tem mais um monte de iniciativas por lá… O encontro gerou um livreto com 10 estudos de casos.
► A repórter que publicou e denunciou o próprio caso – entre outros – de assédio do repórter da Casa Branca do New York Times Glenn Thrush foi alvo de uma campanha de difamação até mesmo dentro do jornal, diz a Jazebel.
► Uma ferramenta da Accenture está buscando equilibrar os enviesamentos dos algoritmos. Ela se chama Fairness Tool – ferramenta de justiça. Saiu na Fast Company.
► No blog do objETHOS (Observatório da Ética Jornalística), da UFSC, uma análise dos erros e acertos de uma reportagem sobre a adaptação dos ônibus de Florianópolis a pessoas com deficiência, feita pelo Jornal do Almoço, da NSC TV.