Como criar espaços de cuidado coletivo na redação?
Em iorubá, Orí significa cabeça. É nela que o orixá habita, porque através dela nos aproximamos daquilo que acreditamos. Ela nos conecta com o mundo e com as pessoas. Por ela, refletimos e transformamos nossa dimensão social, cultural e sagrada.
Há muito tempo tem-se olhado a realidade de forma fragmentada ou binária. Essa visão eurocêntrica ocidental que fala sobre bom e ruim, culpa e perdão, razão e emoção, é a mesma que compreende que o corpo e a mente são coisas distintas; que não observa a realidade de forma integrada e não aprofunda o quanto as questões sociais influenciam nossa saúde física e mental.
Essa é mesma estrutura que permeia nosso modo de operar e trabalhar.
Por que não olhamos a saúde mental enquanto uma responsabilidade coletiva? Por que ainda não criamos e construímos espaços de cuidado e escuta no trabalho?
Estamos vivendo mais um semestre pandêmico, num ano que nos fez repensar e reconfigurar nossa forma de existir no mundo. Não à toa, esse texto quase não saiu. Pensar sobre cuidado e trabalho em meio à rotina, no momento que estamos vivendo, tem sido um grande desafio. Dá um nó na cabeça, abre espaço para desconfortos que viram travas. É algo que paralisa.
Sabemos que o “home office” não é a realidade de muitas pessoas no Brasil, que por vezes precisam se deslocar da quebrada para manter suas condições de vida. É nesse momento que as desigualdades e vulnerabilidades sociais são evidenciadas. Sem dúvida, este momento tem mostrado a importância da criação de espaços de escuta e cuidado para continuarmos em movimento e com saúde.
Aqui na Énois, trabalhar de casa tem sido nossa realidade. Somos uma equipe pequena, diversa, composta por residentes, lideranças e coordenação, de diferentes lugares e quebradas de SP.
Antes da pandemia, criamos encontros no meio da semana para parar, se olhar, checar, compartilhar e acompanhar uns aos outros. A gente reunia toda equipe, tomava um café, comia bolo de tapioca e trocava sensações e sentimentos que atravessam nossas vidas naquele momento. Chamamos esse momento de “café com afeto”, ou simplesmente, café.
Antes da pandemia, criamos encontros no meio da semana para parar, se olhar, checar, compartilhar e acompanhar uns aos outros. A gente reunia toda equipe, tomava um café, comia bolo de tapioca e trocava sensações e sentimentos que atravessam nossas vidas naquele momento. Chamamos esse momento de “café com afeto”, ou simplesmente, café.
Com a quarentena, esse espaço experimental têm sido fundamental para segurar o refrão, num momento tão delicado. É maluca essa coisa de trazer o trabalho pra dentro da nossa casa. O café se tornou um respiro coletivo. Falamos sobre nossas trajetórias de vida, medos, descobertas, ancestralidades. Num clima gostosinho, com as crianças invadindo nossas videochamadas, a gente vai conhecendo um pouquinho da casa das pessoas, as roupas de ficar em casa… daquele jeito! Entendemos que quando há espaços em que podemos dividir nossos desconfortos, há possibilidade de transformação na forma de produzir e existir.
A intenção aqui não é fazer terapia coletiva, mas, sim, se alinhar e tornar o trabalho um espaço de potência, mais humano de fato.
Não parece loucura pensar que o jornalismo depende da habilidade de se comunicar, mas muitas vezes, dentro dos espaços onde o trabalho é a comunicação, não há escuta entre as pessoas no dia a dia? Pensar nossa existência de forma integrada, onde nossa produção e forma de trabalhar estão alinhadas com o mundo e com o que atravessa nossas vidas, nos permite costurar caminhos de cuidado coletivo.
A gente aposta que a criação de espaços de escuta são fundamentais para construção de um jornalismo que, além das pautas, volta seu olhar também para o que podemos construir a partir da troca e do cuidado coletivo.
Por isso nós construímos a Caixa de Ferramentas de Diversidade, com apoio da Google News Initiative. Nela, compartilhamos um pouco das ferramentas e metodologias que produzimos a partir de nossas experiências. Quem sabe elas não podem ser caminhos de cuidado para a sua redação?
SERVIÇO
Como usar a Caixa de Ferramentas de Diversidade
30/09 das 11h às 13h (horário de Brasília)
Inscreva-se em bit.ly/caixadediversidade
Gratuito
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