Diversa

Em qualquer ponto do Brasil tem mulher preta comunicando suas histórias com pertencimento

 

20 de novembro de 2023

 

 

   Fabiana Guia, 36, jornalista pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), repórter especial do Portal    Correio Nagô, o mais antigo veículo de mídia negra e independente de Salvador. 

Formar e atuar no jornalismo é uma escolha desafiadora para mulheres negras e nordestinas. Em muitos casos, decidir pela profissão se baseia na paixão e, ousaria dizer, que a vontade de causar transformações sociais por onde passamos tem bastante relevância.

Foi o que me moveu, é o que me move, especialmente atuar em veículos independentes, de impacto social e plurais, como o Portal Correio Nagô. Vale salientar que são esses os que mais agonizam para sobreviver.

E a centralização de recursos em outras regiões do país exporta tantas profissionais para longe do seu território na busca de mais oportunidades e melhores salários.

Se fosse diferente, a jornalista Gislene Ramos, 37, que vive há 6 anos em São Paulo, não teria necessidade de migrar para fazer especialização em jornalismo negro. “Não encontrei algo que contemplasse o tema na Bahia, achei a pós-graduação em Relações Étnico-raciais na USP. Me inscrevi sem perspectiva de passar, fui aprovada e tive que migrar”, lembrou a jornalista criadora da revista Aonde?! e gestora do site Fala Preta, mídia preta e periférica.

Como muitas de nós, Gislene se incomodava com as mesmas perspectivas das pautas que produzia nos veículos convencionais. “Já tinha passado por grandes jornais e as histórias não me incitavam. A cada novo ano, o viés era igual”,

Hoje, ela ampliou sua atuação para publicidade e leva sua perspectiva racial e cultural para as disputas de poder e de narrativas neste espaço.

Por via um pouco diferente, a jornalista de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, Lorena Ifé, 34, contou que a sua trajetória na comunicação foi de encontro com organizações do terceiro setor. “Por ser negra, ter trabalhado na periferia, com jovens e políticas sociais, consegui conquistar e consolidar minha carreira em Salvador”, complementou Lorena, que também comanda o Afrodengo, comunidade de relacionamento afrocentrado.

Vale dizer, que Lorena trilhou um caminho comum para muitas de nós, em busca de acolhimento e aquilombamento, sentimentos raros em empresas convencionais. “Já me senti muito oprimida em espaço com chefes brancos e inclusive já pedi demissão de lugares porque percebi o ambiente de opressão, adoecedor, quando existia uma questão de hierarquia racial”, relatou Ifé.

Se em 2023 cenários do tipo são comuns, imagina para a jornalista baiana, Cristina Viana, 60, que em 1994, entrou para o curso de jornalismo da UFBA e se tornou a primeira mulher preta a liderar o setor de jornalismo de uma grande emissora no estado.

“Uma vez conversando com uma liderada sobre o texto, chamei a atenção dela, e ela não ficou satisfeita; saiu imitando um macaco pelos corredores da redação”, contou Cristina, que durante sua jornada na comunicação nos anos 2000, sofreu diversas formas de violência, a ponto de ser diagnosticada com depressão e trauma por estresse devido ao racismo.

A menina que nasceu na periferia próxima do tradicional bairro do Rio Vermelho cresceu através do aprendizado incansável e competência dentro da TV foi levada à pensamentos de desistência pela opressão, mas não desistiu.

Afinal, ela já trouxe para casa o prêmio Camião Coutuval 2020, da Colômbia, de melhor documentário de diversidade e inclusão. Ou seja, continua contando nossas histórias por onde passa.

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