Do campo à mesa: Énois produz a websérie Prato Firmeza Campo e Cidade
Você já se perguntou qual a cadeia alimentar que existe por trás de cada prato? Para tentar entender esse caminho a Énois produziu a quinta edição do guia gastronômico, Prato Firmeza Campo e Cidade, com patrocínio da Fundação Cargill. O guia conta histórias de mulheres e homens dos territórios periféricos de São Paulo – SP, focando na zona sul e zona leste, Bragança Paulista e Mogi das Cruzes, que trabalham cultivando os alimentos que chegam às nossas mesas.
O Prato Firmeza Campo e Cidade é uma série audiovisual com cinco episódios. Os vídeos trazem uma riqueza de conhecimento de quem escolheu produzir alimentos saudáveis, em sintonia com a terra e entendeu que comer “não é só alimentar o estômago e alimentar por completo, é alimentar a alma, alimentar todo o seu corpo, porque o alimento é saúde, principalmente quando você come um alimento saudável”, diz Vânia Maria Ferreira dos Santos, uma das protagonista do episódio: Nossa Fazenda – Parelheiros,na Zona Sul de SP, que traz a história da agricultora e a companheira, Valéria Maria Macoratti.
Em 2007, Vânia e Valéria mudaram-se para a chácara Nossa Fazenda. Ao chegarem a Parelheiros, conheceram agricultores locais como Daniel, que estimulou a amiga Valéria a estudar agricultura orgânica e biodinâmica. “Eu brinco que o universo acabou me conduzindo a me transformar em agricultora… Então hoje eu falo, eu sou Valéria, Valéria Maria Macoratti, signo de touro, elemento terra e a terra me deu esse resgate.”
É nesse clima descontraído e afetivo que o Prato Firmeza, por meio dos guias impressos, aborda como as periferias se relacionam com a comida, construindo consciência sobre a alimentação como cultura e saúde. Nesta edição, na linguagem de audiovisual, os depoimentos, as lembranças e sentimentos das/dos agricultoras/os e produtoras/es vão envolvendo os telespectadores numa história de luta em defesa do direito à alimentação orgânica e agroecológica.
“Trabalhar com agricultura, alimentação saudável é muito bom… você vê que a mãe terra precisa só de cuidado…Cuidar, não agredir, né? Como muitos fazem, muitos fazem uma produção gigantesca só para ganhar dinheiro e não cuidam. E hoje a gente está com esse desequilíbrio ambiental”, afirma Joelma dos Santos, integrante do grupo Mulheres da Gau. Nordestina, vinda de uma família de agricultores, Joelma conta que em São Paulo perdeu um pouco da sua essência de mulher do campo, “fui criada na roça até os doze anos, aí quando eu vim pra São Paulo, fui trabalhar na cidade e perdi um pouco o foco. Chegando aqui nas Mulheres do Gau, foi o resgate de um sonho”, conta a agricultora.
As Mulheres da Gau são mulheres, em sua maioria, imigrantes nordestinas, que trabalham como agricultoras. O coletivo teve sua história contada no episódio Mulheres da GAU, em São Miguel Paulista, Zona Leste de SP. O grupo promove a agricultura e culinária orgânica, produzindo e comercializando hortaliças e Plantas Alimentícias Não Convencionais, as PANCs, e no trabalho formativo, oferecendo oficinas de educação ambiental, agricultura urbana e alimentação saudável.
A cada episódio do Prato Firmeza Campo e Cidade é notável o potencial da agricultura familiar nas periferias da cidade, da agroecologia como forma de investir na geração de renda e saúde da população. Você pode conferir toda a força das cinco experiências sistematizadas no canal da Énois no Youtube. Além da Websérie, o guia também tem versão em podcast.
Construção e intercâmbio de saberes – Além da produção dos documentários, o projeto realizou duas oficinas com jovens, agricultores e/ ou filhos e filhas da agricultura familiar, em jornalismo e comunicação para ampliar o trabalho de quem produz e ajudar na divulgação dos produtos.
A formação recebeu 29 inscrições, entre capital e interior. Destas, a maior parte dos inscritos se autodeclararam negras (pretos e pardos) 55,1% e 41,1% brancas – uma predominância maior que a do censo do IBGE, em que 64% dos paulistanos se autodeclararam brancos.
O processo formativo teve a participação de 18 pessoas, quase 80% se identificaram como mulher cisgênero e 13,8% como homem cis. Houve a participação de uma mulher trans não-binária, representando 3,4%. Essa predominância feminina referenda o fomento à participação de mulheres, missão da Énois e revela o papel do protagonismo das mulheres campesinas, que conduzem a agricultura familiar nas cidades de São Paulo, Bragança Paulista e Mogi das Cruzes.
Prato Firmeza – A cada nova edição o guia gastronômico quebra as fronteiras e fortalece seu compromisso político de mostrar que a cidade é maior do que o que se passa entre as marginais e que comer também é um ato político.