Énois lança ferramenta para medir ações de diversidade e impacto nas Redações

Iniciativa inédita, a ONG que trabalha pela promoção da diversidade no jornalismo apresenta metodologia de análise e ferramentas disponíveis para redações de qualquer porte

Já está à disposição de qualquer redação jornalística o conjunto de ferramentas e o “passo a passo”,criados pela Énois, para medir a inclusão de estratégias de diversidade nas redações jornalísticas e o impacto real promovido pelas mudanças estruturais nos processos de gestão, produção e distribuição.  A metodologia, criada para acompanhar o deslocamento das equipes jornalísticas do Programa de Diversidade nas Redações, é um trabalho na América Latinal e pode ser consultado no site da Caixa de Ferramentas de Diversidade da Énois, um site que reúne mais de 50 tutoriais práticos de como  promover um jornalismo mais representativo desde a gestão até a produção e distribuição dos conteúdos. 

Funciona assim: a redação responde periodicamente um formulário sobre a realização de ações de diversidade e através da planilha, acompanha o sucesso dessas ações ao longo do tempo. Para usá-la, a redação deve preencher um formulário periodicamente com perguntas ligadas aos critérios que guiam a construção da diversidade. As respostas geram uma pontuação, que deve ser acompanhada ao longo de um período estabelecido pela redação como meta. Com o diagnóstico na mão, dá pra saber em quais áreas a equipe terá que se dedicar mais para promover mudanças estruturais e avançar na construção de diversidade. 

 Através da métrica, cada organização jornalística diagnostica como está em relação aos indicadores de diversidade, a partir daí, pode implementar mudanças em políticas internas, como mudar seu processo seletivo, por exemplo. Ou criar um novo banco de especialistas e fontes com recorte de raça e gênero, por exemplo. 

“Trabalhar com a diversidade é um processo longo e complexo. Existem estruturas de gestão e de cultura muito consolidadas que precisam ser transformadas para que essa diversidade seja vivenciada de forma real. Criamos a métrica para identificar como tem sido o deslocamento de cada redação e também em quais áreas nós devemos ajudá-los com mais ferramentas práticas para consolidar a diversidade”, diz Jamile Santana, jornalista de dados e gerente de Jornalismo da Énois. 

A ferramenta tem sido importante para direcionar as ações de diversidade em diversas frentes na Redação do jornal O Povo, do Ceará, por exemplo. “Quando entramos no programa, achávamos que as ações de diversidade estavam bem implementadas e desenvolvidas. Mas ao usar essa ferramenta, entendemos que há graus diferentes de dificuldade para implementação das ações, a curto,médio e longo prazo e sem acompanhamento, essas iniciativas se perdem no caminho. No programa conseguimos entender o passo a passo para não perder essa construção de vista”, contou o editor  Érico Firmo.

Impactos reais do trabalho jornalístico

Outro ponto importante da métrica é a identificação de impactos reais promovidos por meio das ações de diversidade adotadas pelas redações. No Programa de Diversidade, por exemplo, as equipes jornalísticas já colhem os frutos das pequenas e grandes mudanças estruturais que fizeram nos primeiros seis meses de programa: todas ampliaram a cobertura e a análise da escuta da audiência para territórios periféricos e mais da metade mudou a orientação sobre quem é retratado e ouvido nas reportagens.

Além disso, 50% incluíram práticas de formação em diversidade (como rodas de conversa sobre racismo estrutural) e escuta da equipe e o cuidado com a saúde mental dos jornalistas. Os impactos também ultrapassaram as fronteiras da redação: as produções pensadas para contemplar grupos normalmente não retratados nos jornais fizeram o sistema judiciário e poder executivo do Ceará criarem políticas públicas de saúde para atender adequadamente pacientes do grupo LGBTQIA+. Em outras regiões do país, houve ampliação do debate público sobre temas sensíveis e repercussão dos assuntos em outros veículos de mídia locais. 

O Índice de Diversidade acompanha o desempenho das redações em três áreas de atuação: Gestão, Produção Jornalística e Cultura. Quanto maior o número de ações de diversidade implementadas institucionalmente em cada área, maior a pontuação da redação. A metodologia pode ser adaptada, caso a redação queira começar a construção focando apenas em uma área de atuação específica, como a de produção jornalística, por exemplo. 

Caixa de Ferramentas de Diversidade

O passo a passo da métrica e as ferramentas necessárias para atender aos requisitos analisados estão disponíveis na Caixa de Ferramentas da Diversidade, na versão em Português e Espanhol.

 “No site da Caixa de Ferramentas oferecemos tutoriais práticos de como fazer isso: como sensibilizar a equipe para trabalhar diversidade, como tornar a produção jornalística mais diversa, como abrir canais de escuta da audiência, como criar processos seletivos mais representativos e inclusivos, entre outras práticas pesquisadas ao longo dos últimos anos”, destacou a jornalista e coordenadora de sistematização Alice de Souza. 

Destaque

A iniciativa, inédita na América Latina, foi destaque na abertura da 1ª Conferência Latinoamericana sobre Diversidade no Jornalismo, realizada pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas. É possível assistir a apresentação aqui . Você também pode conferir o Redação Aberta #20, encontro mensal da Énois. Na última edição, Jamile Santana, gerente de jornalismo, aprofundou a apresentação das ferramentas para medir ações de diversidade e Érico Firmo, do jornal O Povo (CE), e Jordânia Andrade, do portal BHAZ (MG), jornalistas participantes do programa Diversidade nas Redações, falaram sobre como estas ações têm impactado seu cotidiano de trabalho e suas vidas.