24 de fevereiro de 2023
“O grande lance da gordofobia talvez seja que quem sofre o preconceito, também se sente culpada. Pessoas gordas são acusadas de serem preguiçosas, desleixadas, sem força de vontade, amor-próprio, autocuidado, higiene… Só para citar por cima.”
Agnes Arruda, jornalista e comunicadora.
“Oi, eu me chamo Agnes e eu sou uma mulher gorda”.
É com essas palavras que costumo me apresentar quando me chamam para falar sobre a minha pesquisa. Não que quem me veja não identifique em mim, com 120Kg, uma gorda; mas é que nesse lugar, por maior que a gente seja, parece que menos as pessoas são capazes de nos enxergar… Como gente!
Tem sido assim a vida toda, mas o nome para isso descobri há pouco tempo: GORDOFOBIA. Sim, esse preconceito que a gente sofre no trabalho, em casa, na rua, nos relacionamentos, do pai, das amigas, da turma da faculdade, do sistema de saúde, da indústria da moda, dentro do transporte público, no cinema, nos bares, ou seja, institucionalizado como todo preconceito é.
O grande lance da gordofobia talvez seja que quem sofre o preconceito, também se sente culpada. Pessoas gordas são acusadas de serem preguiçosas, desleixadas, sem força de vontade, amor-próprio, autocuidado, higiene… Só para citar por cima. E essas acusações vêm de todos os lugares, principalmente de quem não conhece a gente e tiram essas conclusões apenas por um diagnóstico visual: o tamanho de nossos corpos.
na mesa de cirurgia plástica, ou por excesso de medicamentos ou por ter desenvolvido uma das formas entre uma série de transtornos possíveis, geral se finge de surpresa.
Alguns ainda dizem: “nossa, era tão bonita, nem precisava!”, sem ao menos se dar conta que a frase deixa subentendido que então alguém pode precisar desse emagrecimento a qualquer custo, além de associar magreza com beleza e gordura com feiúra. Não! Gordura não é feiúra, assim como GORDA NÃO É PALAVRÃO.
O peso e a mídia
Entre tantas hipóteses testadas e comprovadas acerca da gordofobia, esse preconceito que, inclusive, mata, como vimos recentemente com o caso do jovem Vitor que morreu na porta de um hospital sem receber assistência médica por falta de maca que o acolhesse em seu corpo, uma delas nos diz bastante respeito: a forma como o jornalismo tem apresentado e coberto fatos que envolvem pessoas gordas. Sim, é preciso reconhecer: o jornalismo tem sua parcela de responsabilidade nisso.
Ao longo de todos esses anos pesquisando a gordofobia como objeto de estudos no campo da comunicação, identifiquei como o jornalismo também pratica esse preconceito e, com isso, contribui para sua manutenção. Pior, pela credibilidade e alcance do ofício, ele acaba ainda por ampliar e expandir a gordofobia em sociedade.
“Mas Agnes, nós estamos apenas reportando o que nos é passado!”, já ouvi. Mas será que as pautas já não chegam enviesadas a partir de uma perspectiva de conhecimento dominante e que patologiza pessoas gordas apenas por serem gordas? Será que a escolha das fontes não exclui pessoas apenas por sua aparência, julgada até subconscientemente mesmo por causa do preconceito? Será que a própria estrutura das redações que não contempla quem “não tem cara de jornalista” inclusive em atividades fora das câmeras… e por “cara de jornalista” vamos estender aí para “corpo” também?
São tantas questões que precisam ser exploradas que um texto só não dá conta.
Vamos olhar para dentro e combater a gordofobia em mais espaços?
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