Conexão da periferia com os povos-florestas

Conexão da periferia com os povos-florestas

8 dias, 14 jornalistas e um intercâmbio entre a região amazônica e as periferias de São Paulo. Interessante, né?

Essa foi a experiência vivenciada pela Énois como produtora convidada da Plataforma Sumaúma para fazer o Micélio, um programa de co-formação e imersão de jornalistas florestas, que aconteceu no início do mês de abril.

Eu, Gloria Maria, comunicadora institucional da Énois, vim contar essa história…

“Micélio” é também um fungo que atua no solo e estabelece uma rede de conexões com diversas espécies de seres vivos e, por essa capacidade de conectar, deu nome à metodologia.

Foram dias de trocas e entrevistas sobre jornalismo local e territórios. As pessoas participantes, chamadas também de “micélios”, se dividiram em grupos para acompanhar a Agência Mural, o Periferia em Movimento e Alma Preta, parceiras nessa vivência. 

A Plataforma Sumaúma propõe um jornalismo do centro do mundo, que desloca a concepção do que é centro local e regionalmente. Os centros não são as grandes cidades onde muito se decide, mas pouco se olha para a população, ou as regiões que concentram o poder, a política e a economia do nosso país. Centro do mundo é onde o povo está, suas histórias e suas demandas.

A gente se identificou demais com esse conceito. Aqui na Énois, temos como foco da nossa atuação as periferias e estar com a Sumaúma significou uma conexão entre floresta e periferia, entre centros do mundo.

Eu pude mostrar a minha comunidade e contar sobre a reportagem que estou produzindo para a Agência Mural, a respeito do direito à moradia e a canalização do córrego Antonico, que um dia já foi limpo e cheio de vida e fonte de alimentação para os moradores locais e hoje está poluído.”

A cidade de São Paulo foi erguida em cima de rios que se acabaram em meio às construções. Esse contexto tocou Yãkurixi Xipaya, de 21 anos, jornalista floresta e moradora de Altamira (PA).

“O que mais me marcou foi saber dos rios mortos e ouvir relatos de moradores que já se alimentaram deles, sentindo a pureza da água. Isso me fez refletir muito sobre a importância de lutar pelos rios que sustentam meu povo”, conta Yãkurixi.

Para ela, conhecer as periferias paulistas significou entender que existem lutas semelhantes às da região amazônica e fortalecer uma rede comunitária diversa e inter-regional.

Sol, 28 anos, também jornalista floresta e artista visual do Xingu, compartilha do mesmo significado. “Conhecer a Énois e outras organizações que utilizam a comunicação como ferramenta de ativismo em defesa dos territórios me deixou muito feliz. Isso nos une”, explica.

No último dia, a co-formação de jornalistas florestas contou com a presença da filósofa e escritora, Sueli Carneiro, em uma roda de diálogo sobre o histórico da imprensa brasileira e da luta pela diversidade no Brasil.

“Costumo debochar, dizendo que éramos meio bolchevique, então não tinha espaço para a ética do cuidado nas relações políticas. E ter essa ética hoje em dia, trazida por essa geração de uma maneira muito forte é humanizar a prática política. Isso é positivo.”, afirmou a filósofa sobre as políticas de cuidado implementadas pelas organizações de jornalismo local que estavam presentes.

A Casa Sueli Carneiro e a Casa Ecoativa também foram parceiras da Plataforma Sumaúma na imersão em São Paulo e a gente espera viver mais momentos com essa galera.

Énois!
Até a próxima história, gente!