Imprensa brasileira bate recorde de audiência com coronavírus

Diversa

Imprensa brasileira bate recorde de audiência com coronavírus

14 de Abril de 2020

Confinadas, as pessoas buscam cada vez mais a informação como arma de combate contra vírus

O mês de março e principalmente as últimas semanas dele foram de recorde de audiência para o jornalismo. FolhaUOL, o jornalismo da Globo em TV aberta, veículos regionais como NSC e Campo Grande News. O IVC indicou 40% de aumento no tráfego geral e o RankMyApp mostra que houve alta de 68% nas instalações dos principais aplicativos de notícias, em levantamento para o Núcleo Jornalismo.
O movimento, assim como o coronavírus, é mundial,indicou o Chalkbeat, empresa de medição e estratégia de audiência que está em 60 países. A The Atlantic ganhou 36 mil novos assinantes em um mês e atribui isso à profundidade da cobertura sobre o coronavírus.
Os recordes de audiência certamente têm relação com o fato de que cerca de 60% do país está em casa e mais do que isso está com medo de ser infectado (74%, segundo a datafolha). A aproximação da vida das pessoas e a prestação de serviço estão guiando a necessidade do jornalismo também. E, certamente, dá para fortalecer o vínculo e a audiência se a produção se voltar a servir – a todos, a mais gente.
Numa rápida análise, EstadãoFolha e OGlobo publicaram no máximo 30 matériasmencionando periferias e favelas na semana entre 29 de março e 05 de abril de 2020. Muito pouco perto do universo de mais de 700 no período cada um.

Quantas matérias citam favela ou periferia, entre 29/03 e 05/04

Em geral, a cobertura jornalística traz relatos e ações dos moradores das periferias e o acompanhamento dos números e ações do governo, com fiscalização pontual de medidas para essa parte da população. Em duas situações, a Folha começou títulos com “Sem esperar governo”, antes de falar de ações dos indígenas e a contratação de médicos em Paraisópolis (esta da agência Reuters).

Moradores e comunicadores periféricos são fonte. 

piauí acompanha a quebrada por meio de relatos de Luana Almeida produtora cultural do extremo da zona leste de São Paulo à repórter Thais Bilenky. Moradora na União de Vila Nova, a 30 km do centro da capital, “vai acompanhar a rotina de sua comunidade durante a pandemia. E descrever se percepções, temores e prioridades mudarão ao longo do tempo”.

Diário da privação, da Folha, trouxe durante uma semana 5 depoimentos do morador de Paraisópolis Hebert Douglas, ao repórter Emilio Sant´Anna, sobre as dificuldades de manter sua família em meio à crise econômica agravada com o coronavírus.

Assunto, podcast da Renata Lo Prete no G1 e Bem Estar ouviram líderes comunitários para relatar o dia a dia nas periferias de São Paulo, Rio de Janeiro Recife, Belo Horizonte, Salvador, Florianópolis e Porto Alegre. É o caminho para mostrar como a população dos territórios organiza a si mesma.

A Pública mostrou como os comunicadores das periferias estão informando na falta do estado, a partir de entrevistas ao repórter José Cícero da Silva, que também é comunicador periférico e do coletivo DiCampana.

Críticas estruturais
Le Monde Diplomatique Brasil faz uma edição crítica à falta de políticas pública para as favelas. Renato Balbim, geógrafo-urbanista, pesquisador e professor visitante da Universidade da Califórnia em Irvine (UCI) defende medidas radicais:
► o uso de imóveis vazios ou ociosos para isolamento da população que vive em regiões de alta densidade,
► a destinação de merenda para as famílias (medida já aprovada no Senado e à espera de sanção do presidente Jair Bolsonaro desde o dia 30/03),
► o reforço de abastecimento de água com caminhões-tanque nas favelas
► a criação de novos abrigos para os sem-teto.
Faz falta esse espírito de cobrança e avaliação de impacto das tímidas medidas que vêm sendo tomadas pelos governos em direção aos mais vulneráveis.
O que não tem nas periferias é o que nunca teve: falta de infraestrutura que pode ser mais impactante que a média baixa de idade, como noticiou a Folha. Mas, o que precisa e quais os caminhos para construir? É papel do jornalismo, do serviço que presta, ser veículo para essa construção. E, mais do que isso, cuidar para que soluções emergenciais apresentadas não sejam, pós-pandemia, motivo para estigmatizar e discriminar ainda mais a população pobre e periférica.
Acesso à informação ► Há governos usando o coronavírus para esconder informação dos jornalistas e cidadãos, reporta o NiemanLab
► Repórteres sem Fronteiras criou o Tracker 19site que documenta o impacto do coronavírus na liberdade de imprensa, tais como como censura e desinformação.
► Pesquisa da USP sobre os comunicadores na cobertura do coronavírus
► City Bureau, de Chicago, está fazendo uma pesquisa pra entender a necessidade de informação das pessoas em situação de maior vulnerabilidade na cidade

AGENDA

#RedaçãoAberta | “Covid-19 nas periferias: como fazer uma cobertura a partir dos territórios?”
Convidamos Cíntia Gomes, jornalista e correspondente do Jardim Ângela na Agência Mural de Jornalismo das Periferias. E, do Rio de Janeiro, a jornalista Elena Wesley, coordenadora da Agência Narra e repórter do data_labe.

8 de abril, das 19h às 20h no bit.ly/redacaoabertaonline

► Atendimento à violência doméstica muda em meio à pandemia. Leia o que muda aqui, na reportagem feita pelo data_labe.

► Grávidas e coronavírus: obstetras respondem dúvidas de gestantes em meio à pandemia. Link para a matéria da revista AzMina.

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