Imagine isso: você vive em uma cidade que não possui sequer um jornal ou veículo de comunicação. Tudo o que vê na TV ou lê na internet não diz respeito à sua comunidade, bairro ou território. Suas principais fontes de informação são, portanto, o que circula no Whatsapp do grupo da família. E você toma suas decisões cotidianas com base nisso. Qual o perigo?
Pois é, não é preciso explicar muito. Hoje, 62% dos municípios brasileiros vivem essa realidade, segundo o Atlas da Notícia. Por ser um país de grandes proporções e de contextos muito diversos, a falta de cobertura nos territórios impacta diretamente o desenvolvimento local. IDH, escolaridade e renda, por exemplo, são menores em locais com pouco ou nenhum jornal.
Sem um espaço para que a informação local circule, temas que são de necessidade fundamental para a comunidade, como é o caso das políticas públicas direcionadas à primeira infância, acabam por não entrar na pauta municipal exatamente para quem mais depende do sistema público.
Mas informação é a força vital de uma comunidade. Não só as pessoas querem saber o que está acontecendo em seus territórios e exigir que políticos prestem contas do seu trabalho, mas o poder público também precisa se comunicar com os cidadãos, para fazer o cadastramento de vagas na creche ou divulgar suas campanhas de vacinação e prevenção. E essas necessidades não vão mudar.
Para apoiar o fortalecimento dessas iniciativas, lançamos em 2020 o programa Jornalismo e Território, que tem como objetivo compartilhar com jornalistas e comunicadores locais ferramentas para que possam melhorar a cobertura em seus territórios.
Nesta primeira edição, nos debruçamos sobre como aprofundar a cobertura de primeira infância e adolescência – e como políticas públicas dentro desse tema impactam seu público direto. Também falamos sobre como organizar seu projeto de jornalismo, pensar as pautas para dar conta das necessidades locais, explorar linguagens e novas formas de distribuição.
Mapeamos 114 veículos, coletivos e iniciativas de comunicação locais, distribuídas em 18 estados. E mais da metade dos jornalistas que foram selecionados para participar da formação estavam fazendo um curso de jornalismo pela primeira vez.