Prato Firmeza 5 e as camadas de potência da comunicação popular no Brasil

Por Camila Rodrigues da Silva

A despeito das infinitas crises, o jornalismo ainda é sonho e potência de muitos jovens espalhados por esse Brasil. Esse é o sentimento latente na produção do “Prato Firmeza 5: um diálogo entre campo e cidade”, a primeira edição nacional do Guia Gastronômico das Quebradas, lançado em novembro de 2023. 

“O Prato Firmeza foi uma porta sendo aberta para infinitas possibilidades. Nosso coletivo nasceu, de fato, enquanto construíamos esse guia tão importante e desafiador. Passamos a nos enxergar enquanto comunicadores populares ao lado de movimentos sociais, entender o caminho da comida que sai do pequeno produtor e chega ao nosso prato, e poder contar as histórias que atravessam essa estrada”, comemora o Tejucupapos, de Recife (PE).

As dez iniciativas que participaram deste longo projeto nasceram há, no máximo, cinco anos. Elas são formadas por uma maioria de mulheres, pessoas negras e muitas pessoas LGBTQIAP+. São coletivos, produtoras, startups em diferentes graus de maturidade, mas já produzem informação relevante e de qualidade dentro de seu segmento e de seu território.

“Nós vínhamos há três anos fazendo uma cobertura hiperlocal, focados em temas relacionados à nossa região, e o Prato Firmeza ofereceu a possibilidade de respirar novos ares”, avalia a equipe da Agência Lume, que atua na zona oeste do Rio de Janeiro (RJ). O campo, os rios e mares foram fontes dos novos ares desses mais de dezenas de comunicadores que tiveram o esforço de entender o “caminho da comida” nas suas periferias.

“O principal impacto para nós foi a ampliação do debate sobre segurança alimentar e sobre como é o mercado para o pequeno produtor e para o consumidor final”, avaliou o Reocupa, de São Luís (MA). 

Na mesma linha, o Coletivo Aruandê, de Salvador (BA), afirma que conseguiu ver um lado do próprio estado que não conhecia. “E a gente passou a levar muito mais a sério essa relação do campo, da cidade, de quem planta, quem colhe, quem luta pra manter ali o seu próprio negócio”. Essa produção também foi uma experiência de afeto e memória para muitos comunicadores. 

Escrever para o Prato Firmeza foi entrar em contato com a cultura do afeto que a comida nos traz desde a infância. Foi acessar conhecimentos ancestrais de sobrevivência, recheados de sabor, ainda por cima pautando democratizar um alimento saudável e de qualidade”, sintetizou o podcast Manda Notícias, que atua na zona sul de São Paulo (SP). 

Mas o guia também ajudou a mudar os olhares de quem empreende com comida nessas quebradas. Muitos donos dos estabelecimentos aumentaram sua autoestima com sua presença no Prato Firmeza.

“Um deles não queria que a gente fizesse fotos ou vídeos, dizendo que estava bagunçado. Mas quando entendeu a proposta, chegou a comentar: ‘se vai sair em um guia nacional, é porque entregamos um serviço de qualidade’”, relata o Cumbuca, que mapeou as iniciativas de Manaus (AM).

Essa valorização criou laços entre comunicadores e empreendedores dessas periferias, que são potentes inclusive na cobertura de outras pautas. 

“O Olhos Jornalismo aprendeu a olhar ainda mais atento para os empreendedores dos bairros em que seus membros atuam. Hoje, esses estabelecimentos estão em diálogo com os membros do Olhos e reconhecem a importância da mídia independente, que nunca haviam ouvido falar”, reconhece o coletivo de Maceió (AL). 

Apesar do nome “guia”, este foi um projeto multimídia e multidisciplinar, de criação de conteúdo original. Havia demandas de um produto impresso, um podcast e reels com recursos de acessibilidade para pessoas com deficiência visual e auditiva. Além disso, os coletivos exercitaram sua dimensão educativa e levaram oficinas de ferramentas de comunicação para estudantes e professores de escolas públicas de seus territórios.

“O Prato Firmeza permitiu que pudéssemos nos enxergar como um coletivo potente e apto para desenvolver projetos tão grandes e desafiadores como esse”, afirmam os jornalistas da Com_Texto, que construiu o pedaço de Cuiabá (MT) do PF 5.

O projeto também estimulou um olhar interno para as iniciativas, sobre o que melhorar e o que valorizar de bom na sua dinâmica de produção. A Awalé, de Florianópolis (SC), acessou novas conexões para além do ecossistema de inovação em que estão inseridas. A Agência Lume aprendeu sobre gestão de tempo e de recursos.

“O PF 5 nos apresentou um mundo novo. Aprendemos individualmente e mudamos nossas certezas dentro da gestão da iniciativa, e nas nossas vidas pessoais. Passamos a cuidar mais da saúde e da alimentação”, compartilha a Lume.

É difícil mapear e mensurar todos impactos causados pelo Prato Firmeza 5. Mas certamente é um marco na expansão da atuação da Énois e na história desses 10 coletivos de comunicação.

Um salve e muito obrigada a todas as apoiadoras e todos os apoiadores da Énois ♥

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