Quem está pensando nos jornalistas independentes solos?

Diversa

Quem está pensando nos jornalistas independentes solos?

 

10 de setembro de 2021

 

Ouso planejar um jornalismo mais conectado, seguro e descentralizado, pois esquecer do profissional da ponta é destruir a chance de termos um país que sabe narrar e registrar suas histórias de Norte a Sul;

 

Joana Suarez – Jornalista independente, repórter freelancer, idealizadora e coordenadora da Redação Virtual

Oi, minha gente, como vão? Sou Joana Suarez, pernambucana mineira. Fui repórter de jornal impresso tradicional por 7 anos e optei pelo freelance (de reportagem) nos últimos 4 anos. Nesse período, não só as empresas passaram a buscar meu trabalho, mas também as e os jornalistas, me pedem dicas. 

Foi assim que comecei, em junho de 2020, a oferecer as oficinas Jornalista Independente. Fiz cinco edições em 1 ano e já participaram 300 pessoas de 50 cidades. Mantenho um grupo de conversas ativo com 250 profissionais, para que a gente possa dar as mãos. Batizei essa rede de Redação Virtual (RV). E essa redação não tem competitividade, porque o objetivo maior é colaborar. 

Os retornos que tive das oficinas e do mercado me indicaram que não bastava partilhar os meios para produzir matérias, era preciso capacitar (desde o início) e dar suporte continuado a essas e esses profissionais. Quase que diariamente atendo as e os colegas checando se uma pauta é boa, para onde poderia ser oferecida, auxiliando com dúvidas durante a produção da reportagem, indicando repórteres para um trabalho freelance, dando mentoria, consultoria… 

Até aqui, venho liderando essa comunidade sem recursos e ajudando muitos colegas. Vários jornalistas da rede RV já conseguiram publicar suas primeiras reportagens, fazer parcerias para montar projetos, e, principalmente, pensar o jornalismo de forma ampla e solidária. O repórter bom sabe que ninguém constrói uma reportagem sozinho, que não se percorre tantas histórias na carreira sem ajuda e sem acolhimento. 

A Redação Virtual cresceu naturalmente restabelecendo o elo saudável perdido entre repórteres, proporcionando uma troca essencial entre recém-formados e experientes. A mesma internet, que gerou a crise do modelo de negócios dos grandes jornais, vem a ser catalisadora desses reencontros. O universo digital facilitou reportagens de profundidade, sem amarras e criativas. 

Praticamente todas as organizações jornalísticas no Brasil agora requisitam o “freela”, e todo jornalista quer contar boas histórias, sejam os antigos, os formandos, os novatos, os desempregados. A vantagem que logo enxerguei foi a descentralização da pauta nacional, apesar da precarização do nosso mercado.

Histórias importantes estão sendo contadas a partir de todos os territórios brasileiros, por jornalistas de vivências plurais no país. As fontes tornam-se mais diversificadas e as narrativas também – porque, sim, nós atravessamos as reportagens que fazemos. 

Fortalecer as bases

A maioria das pessoas que chegam até mim não está pronta para pensar uma pauta completa, apurar sem grana, saber como viabilizar ou publicar, e depois percorrer o árduo trajeto de uma reportagem, sujeita ou sujeito a arcar com as consequências. Ninguém dá conta disso tudo sem suporte por muito tempo. 

A experiência que vivencio na Redação Virtual com cerca de 250 integrantes das cinco regiões brasileiras me fez entender que quando nos unimos, e nos vemos pertencentes a uma classe, somos muito mais potentes. 

Criamos um perfil no Instagram (@redacao.virtual) e uma newsletter (Descentraliza) para divulgar os profissionais do grupo, suas matérias, podcasts, canais, livros, etc, e alargar o olhar do público em geral sobre as produções jornalísticas do país. 

Em uma rede colaborativa, não há limites para somar forças. Senti esse potencial com o projeto Lição de Casa, que também desenvolvi com repórteres da RV para cobrir os impactos da pandemia na educação com diversidade regional, abrangendo pelo menos 10 estados.

Existe esse novo mercado fervilhando, que abre possibilidades incríveis de descentralizar o jornalismo a partir dos repórteres. Mas temos um longo caminho estrutural a percorrer para garantir suporte físico e emocional, sustentabilidade, direitos e perspectivas. 

E tratemos de correr contra o tempo pois já foi dada a largada da “uberização” da nossa profissão – a exemplo de jornais  que criaram plataformas para facilitar a transação com os freelas; alguns pagando R$ 50 por pauta. Tá passada?

Me parece injusto que a oportunidade de escrever matérias de qualquer lugar do Brasil, onde toda a sociedade ganha, venha acompanhada de um abandono dos repórteres da ponta. Furos, materiais multimídias premiados e de fôlego têm sido feitos por freelancers e jornalistas independentes nos últimos anos.

A Redação Virtual se apresenta como rede de apoio contínuo e de articulação para o jornalismo não se perder em relações exploratórias, evoluir fortalecido e alcançar mais. No entanto, precisamos de um modelo sustentável. 

Quem quiser se juntar nessa missão, manda um ‘oi’ por email: [email protected] 

Ou me acha lá no joanasuarez.org 

Recebi o convite da equipe da Diversa para escrever este artigo e não havia lugar melhor para expor esses sentimentos do que num espaço parceiro como a Énois, grande inspiradora na luta por diversidade no jornalismo. Obrigada!

Pra quem quer começar a fazer freelas de reportagem, seguem algumas dicas básicas: 

1 – Fique atento às pautas por onde for (virtualmente também), faça contatos, invistas nas ideias que sentir segurança e tenha sempre uma gaveta de pautas;

2 – Leia os veículos que deseja sugerir pauta, com atenção ao estilo, perfil das histórias, linha editorial etc.

3 – Alterne pautas curtas (mais factuais) e longas (mais aprofundadas), para ter retornos financeiros e profissionais rápidos e demorados;

4 – O bom freela precisa ter ideias, fontes, histórias e entrevistados exclusivos para emplacar a pauta nos jornais;

5 – Abra a cabeça (e portas) para os mais diversos veículos que hoje aceitam freelas, dos tradicionais maiores aos novos e menores;

6 – Mantenha-se conectado com a categoria, em grupos, congressos, cursos, festivais, pois são eles que mais vão te ajudar com oportunidades;

7 – Busque os editores dos locais que tu desejas sugerir uma pauta nas redes sociais, faça contato e mande e-mail com a ideia em formato de título, subtítulo e até dois parágrafos contando o melhor da história que tu já começou a apurar (indica no texto o que mais tu pretendes fazer, entrevistas etc);

8 – Quando emplacar a pauta, converse com o editor, tire todas as suas dúvidas, dê retornos da apuração e peça ajuda;

9 – Mande uma primeira versão do texto pro editor te apontar caminhos e não deixe de pedir pra ler a matéria editada antes de publicar, não tenha vergonha;

9 – Não tenha vergonha também de negociar valores melhores, de cobrar os pagamentos, de ajustar contratos injustos (leia atentamente);

10 – Sindicalize-se, associe-se às entidades jornalísticas e compartilhe com elas as suas demandas como jornalista independente; assine newsletters de jornalismo (Énois, CAJUEIRA, IJNet, Farol etc.); 

Bônus: Por fim, sempre bom lembrar que não há só opção de freelar para veículos já existentes, mas podemos criar projetos de publicação como podcasts, sites temporários, documentários — e financiar esses trabalhos com bolsas e granas de editais de jornalismo nacional e internacional; 

Um salve e muito obrigada a todas as apoiadoras e todos os apoiadores da Énois ♥

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