A Rede Énois e a “potência mulheres” que ela nos traz
Hoje é 8 de Março, Dia Internacional de Luta das Mulheres, e nossa primeira história por aqui não poderia ser diferente disso. Recentemente, anunciamos a chegada de Sanara Santos à diretoria da Énois, a primeira mulher trans negra e periférica a ocupar um cargo de direção em uma organização de jornalismo do Brasil. Agora, trazemos com orgulho uma outra trajetória também muito significativa e que demarca novas eras, se assim podemos chamar nossas revoluções.
A próxima edição do Prato Firmeza, o guia gastronômico das quebradas da Énois, será coordenada pela primeira vez por uma pessoa da Rede Énois, comunidade que cultivamos reunindo iniciativas parceiras de comunicação local de todo o Brasil. Essa pessoa é mulher, é negra, é mãe e vive no Norte do país.
É Cecília Amorim, companheira que desbrava o jornalismo ambiental na região amazônica e agora está com a gente colaborando na equipe. Cecília retrata muito bem o que chamamos de Rede Énois… Uma comunidade composta majoritariamente por mulheres (51,3% da Rede Énois), pessoas pretas (27,2%), e que tem construído conexões na região Norte (10% da Rede Énois está no estado do Pará, com 140 pessoas).
Chega cá, Cecília
Cecília, a partir de quem é, mobiliza o território em que vive com o jornalismo local. Na Énois, já participou do Redação Aberta, escreveu uma Diversa, representou a rede no Congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), em 2023, e hoje nos presenteia estando na coordenação do próximo Prato Firmeza.
Ela é jornalista e mãe de duas crianças. Nasceu em Imperatriz (MA), mas mora há 30 anos em Belém (PA), desde quando a família decidiu tentar a vida no Norte. Cecília recorda que desde a infância teve o incentivo de estudar. Sua mãe, que era trabalhadora doméstica, ganhava livros doados e lhe presenteava. Aos 13 anos, também passou a trabalhar como doméstica conciliando com os estudos para ajudar a família. Rotina difícil para uma pré-adolescente, mas que é a realidade de muitas meninas Brasil afora.
Muitas também (e que sejam cada vez mais), assim como Cecília, superam essas barreiras e conseguem realizar sonhos…
“Não escolhi exatamente o jornalismo. Eu escolhi escrever e me encontrei dentro do jornalismo”
Em 2020, no início da pandemia da Covid-19, ela foi convidada por três amigos comunicadores (Adison Ferreira, Eraldo Paulino e Felipe Melo) para realizar o podcast Carta Amazônia, que dois anos depois participou do Diversidade nas Redações da Énois.
Segundo Cecília, com esse recursos do programa foi possível repensar a iniciativa como algo maior, e assim nasce o site do Carta Amazônia. Hoje, a iniciativa é uma das organizações selecionadas pelo TechCamp Belém 2023, a Embaixada e Consulados EUA no Brasil, em parceria com a Énois, contempladas com recursos para desenvolver um projeto próprio.
A Escola Carta Amazônia de Jornalismo Ambiental está sendo realizada e recebeu 177 inscrições. Um verdadeiro sucesso!!
Desde quando Cecília Amorim passou a entender como a grande mídia cobre o território amazônico, ela trabalha e sonha com um jornalismo local, decolonial e protagonizado por quem vive na região. Um jornalismo que quebra os estereótipos da mídia hegemônica.
“A grande mídia só chega aqui, mandando seus jornalistas, para falar de tragédia. Mas existe uma Amazônia metrópole, ribeirinha, indígena, floresta, lavrado, dos peixes e da carne. Esse território é muito plural e o jornalismo local é para comunicar que somos muitas realidades e não uma coisa só”.
Falar de luta é também falar sobre conquista. Por isso, contamos hoje a história de Cecília que se mistura com a nossa e move comunicação e territórios para perspectivas mais justas e diversas. Inspirador, né?
Fica com a gente que tem mais chegando!