Énois promove lançamento do projeto Mapa do Jornalismo Local em São Paulo
Pesquisa mapeou 140 iniciativas de jornalismo local e periférico em São Paulo e a Região Metropolitana
Os veículos de comunicação tradicionais, presentes no Brasil, têm sofrido variações ao longo das últimas décadas, porém suas narrativas ainda difundem estigmas sociais criados e reproduzidos que reforçam diversos estereótipos em relação às periferias. Diante disso, grupos e coletivos de jornalismo se articulam com o propósito de construir sua comunicação, propondo-se dar visibilidade à cultura local, os problemas e potencialidades presentes no cotidiano periférico.
Com o intuito de mapear e dar visibilidade para esses veículos que estão trabalhando para dar conta das necessidades de informação de suas comunidades, assim como valorizar sua cultura e identidade a partir da comunicação, a Énois Laboratório de Jornalismo construiu, ao longo de 2021, o Mapa do Jornalismo Local em 39 cidades que compõem São Paulo e a Região Metropolitana.
Na próxima terça-feira (12), às 19h, o Mapa do Jornalismo Local será lançado em evento presencial, na Casa do Povo, em São Paulo-SP. Momento destinado para dialogar sobre cultura e jornalismo na periferia, a partir dos dados sistematizados durante a pesquisa, que mapeou 140 iniciativas de jornalismo local e periférico.
A jornalista e coordenadora do mapa, Gisele Alexandre, explica que o evento possibilitará a troca de vivências entre os jornalistas, grupos e coletivos que atuam na comunicação voltada para seu território.“A gente vai conhecer novas práticas, novas tecnologias, novas ferramentas”, comenta a jornalista que atua há 15 anos no jornalismo periférico no distrito do Capão Redondo (SP).
Alexandre defende que o mapeamento dos veículos é uma importante ferramenta na construção de novas redes de comunicadores locais e também para conquistar “credibilidade no nosso trabalho, mostra que não é um trabalho isolado, a gente ganha força e juntos nessa força a gente consegue pautar melhor os nossos direitos, direitos que são importantes para nossa comunidade e com certeza a gente contribui aí para manutenção da democracia”, reflete a jornalista.
Dados traçam perfil da comunicação periférica de SP
Para construir o Mapa do Jornalismo Local, quatro jovens pesquisadoras, comunicadoras e moradoras de territórios periféricos, se debruçaram para levantar os dados dos veículos jornalísticos e de difusão cultural. Toda a pesquisa foi realizada de maneira virtual, por isso, um dos principais desafios das pesquisadoras, Ana Cristina da Silva Morais, Katia Flora dos Reis, Ariane Costa Gomes e Jessica Suellen Palmeira Silva, foi identificar veículos locais que usam as redes sociais como principal, e muitas vezes único, canal de difusão dos seus conteúdos.
“Nosso objetivo foi construir um grande mapa interativo das iniciativas que trabalham pela democratização da cultura e do jornalismo nas periferias, identificando produtores de conteúdo que utilizam da comunicação e do jornalismo como ferramentas para informar e valorizar a cultura local”, explica Gisele. Além de coletar informações sobre cidade e bairros periféricos de atuação das iniciativas de comunicação, a pesquisa buscou entender o perfil de gênero e raça/cor dos responsáveis e outras relações como, por exemplo, envolvimento em iniciativas comunitárias, partidárias e religiosas.
Na intersecção de raça e gênero, por exemplo, identificamos que há maior incidência de homens negros liderando iniciativas de comunicação: 40% (total de pretos e pardos), à frente de homens brancos (31%). A soma de mulheres pretas e pardas na liderança (15%) também é maior que o número de mulheres brancas (6%). O cenário visto na imprensa tradicional, portanto, não se repete nas iniciativas locais mapeadas, como avalia o estudo da Reuters Institute for the Study of Journalism, que mostrou que, enquanto cerca de 57% dos brasileiros se declaram pretos e pardos, nenhum negro lidera os maiores jornais, portais e emissoras do país.
Esse jornalismo local, que algumas vezes é invisibilizado e até colocado em dúvida, é capaz de compreender as necessidades dos moradores e moradoras de uma maneira única. Afinal, quem se propõe a atuar nesse trabalho quase sempre é também um integrante da comunidade, então sabe e sente quais as necessidades do público dali. Dessa maneira, produz notícias com a certeza de sua relevância.
O mapeamento que foi realizado nos bairros e periferias da capital paulista será estendido a outras regiões do país e também contemplará iniciativas que cobrem questões de outra natureza, como educação, mobilidade e segurança. Essa primeira etapa do projeto foi realizada com apoio do Programa Municipal de Apoio a Projetos Culturais da Prefeitura de São Paulo (Promac) e é patrocinado, via lei de incentivo, pela Meta, Marsh McLennan e pela MN Tecidos.