09 de Janeiro de 2020
Os desertos de informação e a cobertura midiática nas regiões periféricas de Guarulhos e Itaquaquecetuba, na Grande SP
Ao digitar no Google o nome de alguma das periferias de São Paulo, a dimensão dada pelo noticiário local impresso e online, quase sempre, é superficial e sensacionalista. Mas já sabemos que a realidade nestes territórios não se resume à violência e falta de infraestrutura, né?
O trabalho de veículos de comunicação como Agência Mural, Capão News, Periferia em Movimento, entre tantos outros, tem colaborado para mudar esta situação na cidade de São Paulo, mostrando as várias perspectivas das periferias paulistanas e do ponto de vista de quem mora e convive por lá. Promovem coberturas sobre o direito à moradia, trabalho e renda, a resistência e a diversidade locais, fiscalizam os serviços, enfim, fazem um trabalho fundamental para a garantia de direitos e a imagem do que são as periferias e seus moradores.
É algo que certamente não acontece com cerca de 38 milhões de brasileiros ainda vivem sem cobertura jornalística dos seus bairros e regiões, segundo a versão atualizada do Atlas da Notícia. Mas há ainda um limbo entre receber informação que ajuda na defesa dos direitos ou uma visão de fora do território, sem informar e fiscalizar o que acontece no bairro e as políticas públicas discutidas na região. A diversa sobre jornalismo local e eleições, em 2018, tratou disso com mais profundidade e o Atlas aponta essa preocupação quando trata de quase desertos, locais que têm no máximo 2 veículos.
Fomos repórteres residentes da Agência Énois em 2019 e circulamos pela cidade conhecendo diversas iniciativas de comunicação enquanto produzimos nossas pautas. E fomos percebendo que a sensação de não saber e estarmos desconectados das quebradas em que nascemos e crescemos poderia ter a ver com esse limbo informativo. Resolvemos então pesquisar para ver como o noticiário impresso e online retratam nossos bairros: o Jardim Fortaleza, em Guarulhos, e o Jardim Odete, em Itaquaquecetuba.
O Jardim Fortaleza fica a 42 km de distância do centro da capital paulista, mas lendo os jornais parece pertinho, de tanta informação sobre o centro. Pode ter a ver com o fato de os jornais mais antigos, Guarulhos Hoje e Folha Metropolitana, serem dos dois maiores grupos de jornais da capital Folha e Estado. O mesmo vale para os sites que têm nome, mas não informação local, Click Guarulhos e Guarulhos Web.
Na contramão desses jornais locais, há iniciativas que buscam olhar para o território a partir dali. Têm jornalistas nascidos e/ou criados nas regiões e entendem o jornalismo como uma ferramenta que torna o leitor um cidadão mais crítico e exigente.
No distrito dos Pimentas, periferia de Guarulhos, o Projeto ComCom de Comunicação Comunitária surgiu em 2013 porque os moradores entenderam que a informação e os meios de comunicação eram um jeito potente de entender a formação do território. Desde então, o curso semestral de comunicação em rádio, TV, internet e jornal impresso formou mais de 700 alunos entre 12 e 71 anos. Um dele é Nelson Simplicio da Silva, 26, estudante de Educomunicação na Universidade de São Paulo (USP), que hoje é coordenador do projeto.